Roteiro de meninos vadios corria mundo e
sempre acabava debaixo de uma árvore. Quando não era umbu cajá nas manhãs do
quintal do Sr. Zé Nunes, ali onde um velho umbuzeiro virou estacionamento do JB
Hotel, nos deliciávamos com os jatobás da casa dos Santana. Quem não gostava de
castanhola era menino besta. As melhores e mais saborosas, a gente sempre
encontrava na calçada de Augusto Amador ou na velha Apami, ali onde seu mais
produtivo pé há muito já virou Banco do Brasil. Menino que era menino mesmo,
corria mundo e, volta e meia, roubava cajus na capelinha do hospital Dom Malan.
As goiabas brancas ou vermelhas vinham fácil das mãos de Dona
Luzinete, na casa de Dr. Ferraz. Tempo de goiaba era tempo doce. Era! O dia a
dia da gente menino começava e invariavelmente terminava na copa de uma
fruteira. Algumas vezes, metros acima do mundo, contemplávamos tudo do alto de
uma mangueira. Escondidos daqueles que não sonhavam mundos perfeitos,
imaginávamos sempre namorar a menina mais bonita da rua. Na manhã seguinte, já
em grupos, a gente saía pra catar umbu na lagoa de Basílio. Essa era, na época,
a tática mais acertada para arrumar namoro. Umbu fresquinho, carnudo como o
primeiro beijo debaixo das quixabeiras.
Quando
alguém ficava rouco de tanto chamar pelos apelos que a gente sequer ouvia,
tinha sempre um quintal amigo com suculentas romãs. Mamãe obrigava gargarejar a
casca, mas era o miolo que eu sempre comia. E as condessas do Sr. Dão? Só
depois de anos a fio de intermináveis delícias é que vim descobrir que elas não
são, na verdade, as frutas do conde. Muito mais nobres e pomposas que as velhas
e saborosas pinhas de Atrás da Banca. Ali na Dom Vital tinha uma tia de um
amigo meu que era bem velhinha. Da sua janela, a gente pegava com a mão e
depois ia comer, debaixo do pé, o figo que ainda não conseguiram enlatar.
Menino
que era menino corria rua acima, lua abaixo, mais não dormia sem antes chupar
uma boa manga com sal. Epa! Gritava a mãe assombrada, manga de noite faz mal!
Banana também! Atrás da casa de Geraldo Azevedo tinha cada banana que acabava
com qualquer promessa de mãe. Sair de bicicleta sem rumo só pra descansar no
velho juazeiro, que ficava do outro lado do rio, era coisa pra menino de
coragem. A maioria dizia que não gostava do pequeno juá amarelinho. Pura
desculpa. Seriguelas de vez tiravam o sossego de dona Albertina Guimarães.
Os jambos
quase não ficavam maduros no quintal de Sr. Cândido Miranda. Tamarindos,
melados, as azeitonas pretas da Casa Rural, que também vai virar prédio,
residencial. Corre menino, que lá vem tiro de sal. Coco verde pra vara curta.
Tudo era muito mais verde. Os meninos mais ecológicos. Aquele que não nadasse
até a pedra não era homem. E as frutas? Menino, corra no supermercado e me
traga mangas bonitas, tipo exportação, grita hoje a mãe atarefada. Lá no
quintal, em todos quintais de Petrolina agora, amadurecem no pé, velhos sonhos,
desejos dos meninos de outrora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário